terça-feira, 29 de abril de 2014

CONSULTA POPULAR - Confira a listagem com o número de votos de cada projeto:

1º lugar – Hospital de caridade – Equipamento Gerador e Transformador de energia – 1.009 votos
2º lugar – Sec. Mun. De Saude – Reforma Unidade Basica – 2º Distrito – 760 votos
3º lugar – Coleta Seletiva – Construção Galpão de reciclagem – 703
4º lugar – Desenvolvimento Rural - Construção Equipamento Feira Agricultura Familiar – 580 votos
5º lugar – Brigada Militar – viatura leve – 510 votos
6º lugar – Sec. Turismo Juventude e Mulheres – Capacitação para mulheres – 365 votos
7º lugar – Sec. Turismo Juventude e Mulheres – Melhorias caminhos de excesso Parque Turístico Nossa Senhora da Conceição – 334 votos
8º lugar – Associação canguçuense de Futebol de Campo – Apoio a realização de eventos esportivos – 314 votos
9º lugar – ETERC – equipamentos laboratório de solos – 295 votos
10º lugar – Associação de moradores Bairro Vila Nova – Aquisição equipamentos par Laser (praça) – 197 votos
11º lugar – Esc. Est. Oziel Alves Pereira – Laboratório de Informática – 191 votos
12º lugar – Associação Bairro Vila Fonseca – Padaria Comunitária – 118 votos
13º lugar – Veste Sul – Pavimentação, Iluminação e Esgoto Pluvial (aquisição de material) – 81 votos

Projetos Regionais
1º lugar – Saúde – Unidade de Traumatologia – 913 votos
2º lugar – Educação – 799 votos
3º lugar – Desenvolvimento Rural – 343 votos
4º lugar – Segurança – 212
5º lugar – Infraestrutura de Estradas – 209 votos

Foram votados projetos nas diversas áreas como educação, saúde, segurança, cultura, entre outros.

Aconteceu nesta segunda dia 28, mais uma Assembleia Pública Municipal da Consulta Popular. Neste ano, a segunda etapa do processo de Participação Popular e Cidadã 2014 com orçamento para 2015, obteve recorde de público atingindo a marca de 1416 votantes. Prestigiaram o evento a Deputada Estadual Miríam Marroni, o Presidente do Corede-sul, Cássio Mota, o Coordenador da 5ª CRE, Círio Machado Almeida, o Coordenador de Saúde da Região, Milton Martins, o Coordenador Regional SDR, Antônio Queiroz, a Coordenadora do Fórum de Governo, Cecília Hipólito, o Coordenador Regional de Participação Popular, Manuel Reis, além do Prefeito Gerson Nunes, Vice-prefeito Neizinho, secretários municipais e vereadores.

As Assembleias Públicas Municipais tem como objetivo definir as prioridades de cada município, elaborando assim, até dez demandas, dentro das áreas temáticas priorizadas na região. Também no ato, são escolhidos delegados que irão debater e definir, juntamente com os membros da Coordenação Regional e do Corede-Sul, a estruturação da cédula de votação do processo, que passará por aprovação no Fórum Regional do PPC que acontecerá em Pelotas no dia 12 de maio.


Através da Consulta Popular, Canguçu já recebeu 5 milhões 101 mil e 718 reais em recursos do Governo do Estado, veja na lista abaixo:

ETEC: Ampliação da Escola, Centro de Convivência e Equipamentos – R$ 360 mil
Hospital de Caridade de Canguçu: Aquisição de equipamentos e materiais de consumo, equipamentos para UTI, ampliação da área física e material de custeio – R$1 milhão 849 mil e 500 reais
Coleta Seletiva: Construção do galpão de reciclagem – R$ 75 mil
Segurança: Brigada Militar e Corpo de Bombeiros (viaturas, equipamentos e caminhão do corpo de bombeiros) – R$ 322 mil e 766 reais
Desenvolvimento Rural: Patrulhas agrícolas, capacitação e recuperação de pomares – R$ 652 mil e 066 reais.
Cultura: Cursos e capacitações – R$ 59 mil e 93 reais
Turismo: Material de Divulgação do Município – R$ 10 mil
Desenvolvimento Social: Equipamento e materiais de consumo – R$ 146 mil e 856 reais
CORSAN: Ampliação e melhoria da captação de água do Arroio Pantanoso – R$ 1 milhão e 625 mil


quarta-feira, 23 de abril de 2014

Consulta Popular: Votação dos projetos acontece na próxima segunda-feira, dia 28


Acontece no dia 28 de abril mais uma Assembléia Pública Municipal da Consulta Popular. Neste ano, a segunda etapa do processo de Participação Popular e Cidadã 2014 com orçamento para 2015 acontecerá, em Canguçu, no Centro Esportivo Municipal à partir das 9h.

As Assembleias Públicas Municipais tem como objetivo definir as prioridades de cada município, elaborando assim, até dez demandas, dentro das áreas temáticas priorizadas na região. Também no ato, são escolhidos delegados que irão debater e definir, juntamente com os membros da Coordenação Regional e do Corede-Sul, a estruturação da cédula de votação do processo, que passará por aprovação no Fórum Regional do PPC que acontecerá em Pelotas no dia 12 de maio.

Poderão ser votados projetos nas diversas áreas como educação, saúde, segurança, cultura, entre outros. Toda a comunidade canguçuense esta convidada a participar deste processo democrático de decisão do destino de recursos públicos.

Através da Consulta Popular, Canguçu já recebeu 5 milhões 101 mil e 718 reais em recursos do Governo do Estado.

Sugestão de Leitura (disponível na Biblioteca)

Cem Anos de Solidão, o livro que criou uma geração de leitores

Arte por meio da escrita é o que fez o colombiano Gabriel García Márquez em sua obra definitiva, “Cem Anos de Solidão”. Construiu a história latino-americana tão repleta de guerras e solidão a partir da árvore genealógica de uma família
A América Latina é uma região diferenciada do mundo — quanto à história da construção de sua identidade. As instabilidades políticas, aliadas à insuficiência de recursos, muito contribuiu para a eclosão de movimentos típicos da alma latino-americana: ditaduras, guerras, guerrilhas, repressões, exílios e exportação de refugiados são fatos próprios de nossa história. Uma história de solidão, como bem definiu um de seus maiores intérpretes. Na visão desse intérprete, isso se deve a um nó que evidencia “a in­suficiência dos recursos convencionais para tornar nossa vida acreditável”.
Esse mesmo intérprete delineou, com a inteligência que lhe é peculiar, o perfil inerente ao continente latino-americano. Continente que revela o muito que tem de demente, mesmo após a libertação do império espanhol, que por anos dominou a maioria dos países latino-americanos. Trans­crevamos parte de um discurso desse intelectual, quando do recebimento da maior honraria que um homem de letras pode receber neste mundo: o Prêmio Nobel de Literatura.
“O general Antonio López de Santana, que foi três vezes ditador do México, mandou enterrar com funerais magníficos a perna direita que perdeu na chamada Guerra dos Bolos. O general García Mo­reno governou o Equador durante dezesseis anos como monarca absoluto, e seu cadáver foi velado com seu uniforme de gala e sua couraça de condecorações, sentado na poltrona presidencial. O general Maximiliano Hernández Martínez, o déspota teósofo de El Salvador que fez exterminar numa matança bárbara 30 mil camponeses, tinha inventado um pêndulo para averiguar se os alimentos estavam envenenados, e mandou cobrir de papel vermelho a iluminação pública para combater uma epidemia de escarlatina.”
Se quisermos trazer esse espírito da América Latina para bem junto de nós, basta observar o que foram o culto à personalidade do chavismo, as ditaduras militares da Argentina e do Chile — e, lógico, o Brasil pós-1964.
Nosso reconhecido intérprete aponta números, no seu discurso de premiação, que espantam quando o assunto é a repressão no Continente. Os dados são estarrecedores. Cinco guerras e dezessete golpes de Estado, 120 mil desaparecidos, morte de 20 milhões de crianças antes de completar dois anos, “mais que todas as crianças que nasceram na Europa ocidental desde 1970”.
O quadro não se altera se o assunto for o número de exilados e refugiados que a região exporta mundo afora. Um milhão de pessoas do Chile, um em cada cinco uruguaios sofrem a dor do exílio. E mais: a cada 20 minutos, El Salvador produz um refugiado. Enfim, todas essas adversidades representam mais que a população da Noruega. Sim, de fato nosso principal intérprete mostrou que conhece profundamente a alma da América Latina. Demonstrou isso não só naquele memorável discurso de sua premiação, mas, sobretudo, pelas obras-primas que produziu para a humanidade ao longo de sua produtiva vida dedicada à literatura.
A solidão latino-americana se torna mais visível ainda se o assunto for a economia da região. Somos condenados àquilo que a Comissão Para o Desenvolvimento da América Latina (Cepal) dicotomiza entre centro e periferia, que nos condena a eternas trocas desiguais. Numa primeira fase de nossa história, a exportação de matérias-primas e importação de produtos industrializados; numa segunda fase, em tempos de globalização, nossa recente industrialização nos tornou dependentes numa nova e prisioneira subordinação corporificada pela dependência tecnológica. Ou seja, a inovação tecnológica produzida nos centros mais dinâmicos tornou nossas indústrias suas prisioneiras.
Construir a história latino-americana tão repleta de guerras e solidão a partir da árvore genealógica de uma família, que na realidade é a sua. Fazer isso articulando gerações e gerações sem perder o fio da meada não é tarefa para qualquer um. Transportar o leitor para o mundo de solidão dos personagens tão apegados a guerras inúteis, à solidão e magia inerente a sociedades lentas e subdesenvolvidas, léguas distante da modernidade, sem citar explicitamente aonde quer chegar, mas levando leitores mais experientes a intuírem a mensagem do escritor não é tarefa para um autor comum. Enfim, elaborar tudo isso num ambiente narrativo repleto de imaginação, recorrendo à fantasia para revelar a realidade, é o que fez desse escritor um mestre num estilo que conhecemos como realismo mágico. É o que conhecemos como arte. Arte por meio da escrita é o que construiu o colombiano Gabriel García Márquez na obra definitiva, que certamente muito contribuiu para que a ele fosse merecidamente concedido o Prêmio Nobel de Literatura, de 1982.
A obra de que falo é considerada a mais importante escrita em língua hispânica depois de “Dom Quixote”, do espanhol Miguel de Cervantes. Falo de “Cem Anos de Solidão”, um sucesso absoluto com mais de 50 milhões de exemplares vendidos. Um clássico da literatura mundial. É dela que falaremos a seguir, depois de apresentar o autor — se é que ele ainda precise de apresentação.
Escritor, jornalista, editor e ativista político, Gabriel García Márquez nasceu no dia 6 de março de 1927, em Aracataca, Colômbia. Com a mudança dos pais para Barranquilla, conviveu intensamente com os avós maternos, que o criaram em sua primeira infância, e de quem recebeu intensa influência. Do avô, um veterano da Guerra dos Mil Dias, escutou histórias que muito influenciaram suas obras literárias. Estudou Direito e Ciências Políticas na Universidade Nacional da Colômbia, mas não chegou a se graduar.
García Márquez leu e viajou por muitas partes do mundo. Os autores que mais o influenciaram foram o tcheco Franz Kafka, o mexicano Juan Rulfo e o norte-americano William Faulkner. Foi-lhe concedido o Prêmio Nobel de Literatura pelo conjunto de sua obra. “Cem Anos de Solidão” é considerado o romance introdutor de um estilo literário: o realismo mágico. Como ativista político, García Márquez se tornou um respeitado interlocutor de governos latino-americanos. Dentre seus amigos, destacam-se Fidel Castro, de Cuba, e o ex-presidente francês François Mitterrand.

Fonte: http://www.revistabula.com/671-cem-anos-de-solidao-o-livro-que-criou-uma-geracao-de-leitores/

terça-feira, 22 de abril de 2014

Homenagem a Gabriel García Márquez (Gabo)

O escritor colombiano Gabriel García Márquez morreu nesta quinta-feira (17) aos 87 anos. Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1982 e autor de clássicos como "Cem anos de solidão" e "Amor nos tempos de cólera", García Márquez também produziu uma vasta obra jornalística, que inspirou (e ainda vai inspirar!) gerações de outros jornalistas e escritores.
Mesmo enquanto vivia, Gabo - como é conhecido pelos fãs - teve muitas frases atribuídas a ele. Como nem tudo é verdade, fomos investigar e estas "aspas" abaixo a gente garante que são dele:
  1. “Um único minuto de reconciliação vale mais do que toda uma vida de amizade”
  2. “A sabedoria é algo que quando nos bate à porta já não nos serve para nada”
  3. “Tudo é questão de despertar sua alma”
  4. “A vida não é mais do que uma contínua sucessão de oportunidades para sobreviver”
  5. “Não passes o tempo com alguém que não esteja disposto a passá-lo contigo”
  6. “O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança”
  7. “Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estiver triste, porque nunca se sabe quem pode se apaixonar por teu sorriso”
  8. “Lembre sempre que o mais importante num bom casamento não é a felicidade e sim a estabilidade”
  9. "A vida não é o que se viveu, mas sim o que se lembra, e como se lembra de contar isso"
  10. “No dia em que a merda tiver algum valor, os pobres nascerão sem cu”
  11. “A ética deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro”
  12. “Um verdadeiro amigo é alguém que pega a sua mão e toca o seu coração”
  13. "Não chore porque acabou, sorria porque aconteceu"
  14. "As coisas de valor não por causa de seu valor, mas por causa de seu significado”
  15. “Um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se”
  16. "Amar torna-se maior e mais nobre na calamidade"
  17. "O escritor escreve seu livro para tentar explicar a si mesmo o que está além de sua compreensão"
  18. "A memória do coração elimina o mau e aumenta o bom. Graças a esse artifício, somos capazes de suportar o passado"
  19. "Todos temos três vidas: A vida pública, a vida privada, e uma vida secreta".

Fonte: http://www.brasilpost.com.br/2014/04/17/citacoes-gabo-garcia-marquez-frases_n_5169554.html 

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Canguçu enfeita-se para a PÁSCOA!

A Praça Dr. Francisco Carlos dos Santos e a frente da Prefeitura estão enfeitadas para a páscoa com lindos coelhos confiram algumas fotos:

O ovo e a vida - Fábio Gonçalves

Dentro do ovo,
escondidas de todos,
há uma clara e uma gema,
células do novo,
que se formam em segredo...
Dentro de nós ( que um dia fomos ovo),
há claras e gemas.
Claras, quando a mente é aberta
e gemas, quando a dor aperta...
A casca é dura
quando nos fechamos
ao novo,
ao sol, à vida...
A vida futura do ovo é um novo ser
ávido por sol,
por luz e por vida.
A vida é uma grande ave,
de asas abertas e quentes que,
pacientemente persevera
no ato de aquecer, estimular, instigar...
Calmamente, espera o milagre,
acredita nele,
insiste nele,
“bota fé”!
Aquece o ovo,
protege o ovo
acredita no novo
e enche de esperança o ninho nosso de cada dia.
O ovo, aquecido,
rompe a casca sem medo e,
uma vida nova,
quebrando o segredo
e rompendo o silêncio, nasce!
Dentro de nós também há vida,
maior que a vida do ovo,
melhor que a vida do ovo,
É a nossa vida em Cristo Ressuscitado!
Um gesto, uma vontade, um sonho, uma atitude
fazem com que a casca se rompa
e a vida ressurge
fulgurante e linda,
“pintando” no pedaço!
Isto é ressurreição, isto é Páscoa!
Páscoa é quando ousamos mudar algo em nós!
É quando rompemos barreiras para sermos melhores...
É quando quebramos a casca de nossa vida velha e quebramos a cara,
acreditando na possibilidade da luz...
As cascas são muitas...
Muitas delas, mais duras e mais difíceis de serem rompidas.
Mas a força do ovo vem de dentro.
É do lado de dentro que nasce
a vontade de ser novo!
Não sejamos ovos!
Sejamos novos!

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Carlos Drummond de Andrade

 QUADRILHA

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
 


Nome:
Carlos Drummond
de Andrade
Natural:
Itabira - MG
Nascimento:
31/10/1902
Morte:
17/08/1987

Carlos Drummond de Andrade (1902–1987) foi poeta brasileiro. "No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho". Este é um trecho de uma das poesias de Drummond, que marcou o 2º Tempo do Modernismo no Brasil. Foi um dos maiores poetas brasileiros do século XX.

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) nasceu em Itabira de Mato Dentro, interior de Minas Gerais. Filho de Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond de Andrade, proprietários rurais decadentes. Estudou no colégio interno em Belo Horizonte, em 1916. Doente, regressa para Itabira, onde passa a ter aulas particulares. Em 1918, vai estudar em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, também no colégio interno.

Em 1921 começou a publicar artigos no Diário de Minas. Em 1922 ganha um prêmio de 50 mil réis, no Concurso da Novela Mineira, com o conto "Joaquim do Telhado". Em 1923 matricula-se no curso de Farmácia da Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte. Em 1925 conclui o curso. Nesse mesmo ano casa-se com Dolores Dutra de Morais. Funda "A Revista", veículo do Modernismo Mineiro.

Drummond leciona português e Geografia em Itabira, mas a vida no interior não lhe agrada. Volta para Belo Horizonte, emprega-se como redator no Diário de Minas. Em 1928 publica "No Meio do Caminho", na Revista de Antropofagia de São Paulo, provocando um escândalo, com a crítica da imprensa. Diziam que aquilo não era poesia e sim uma provocação, pela repetição do poema. Como também pelo uso de "tinha uma pedra" em lugar de "havia uma pedra". Ainda nesse ano, ingressa no serviço público. Foi auxiliar de gabinete da Secretaria do Interior de Minas.

Em 1930 publica o volume "Alguma Poesia", abrindo o livro com o "Poema de Sete Faces", que se tornaria um dos seus poemas mais conhecidos: "Mundo mundo vasto mundo se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução". Faz parte do livro também, o polêmico "No Meio do Caminho", "Cidadezinha Qualquer" e Quadrilha". Em 1934 muda-se para o Rio de Janeiro, vai trabalhar com o Ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema. Em 1940 publica "Sentimento do Mundo" influenciado pela Segunda Guerra Mundial. Em 1942 publica seu primeiro livro de prosa, "Confissões de Minas". Entre os anos de 1945 e 1962, foi funcionário do Serviço Histórico e Artístico Nacional.

Em 1946, foi premiado pela Sociedade Felipe de Oliveira, pelo conjunto da obra. O modernismo exerceu grande influência em Carlos Drummond de Andrade. O seu estilo poético era permeado por traços de ironia, observações do cotidiano, de pessimismo diante da vida, e de humor. Drummond fazia verdadeiros "retratos existenciais", e os transformava em poemas com incrível maestria.
A poesia de Carlos Drummond de Andrade era facilmente entendida e captada pelo grande público, o que o tornou poeta popular, o que não quer dizer que seus poemas fossem superficiais. A Rosa do Povo é um poema muito conhecido e comentado. A rosa nesse poema funciona como metáfora do entendimento universal, dos valores da democracia e da liberdade, valores típicos da modernidade no século 20. Carlos Drummond de Andrade foi também tradutor de autores como Balzac, Federico Garcia Lorca e Molière.
Em 1950, viaja para a Argentina, para o nascimento de seu primeiro neto, filho de Julieta, sua única filha. Nesse mesmo ano estréia como ficcionista. Em 1962 se aposenta do serviço público mas sua produção poética não para. Os anos 60 e 70 são produtivos. Escreve também crônicas para jornais do Rio de Janeiro. Em 1967, para comemorar os 40 anos do poema "No Meio do Caminho" Drummond reuniu extenso material publicado sobre ele, no volume "Uma Pedra no Meio do Caminho - Biografia de Um Poema". Em 1987 escreve seu último poema "Elegia de Um Tucano Morto".
Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro, no dia 17 de agosto de 1987, doze dias depois do falecimento de sua filha, a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade.

Muito a propósito da sua posição política, Drummond diz, curiosamente, na página 82 da sua obra "O Observador no Escritório", Rio de Janeiro, Editora Record, 1985, que "Mietta Santiago, a escritora, expõe-me sua posição filosófica: Do pescoço para baixo sou marxista, porém do pescoço para cima sou espiritualista e creio em Deus."

Fonte: http://www.e-biografias.net/carlos_drummond/

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Semana dos Museus de 12 a 18 de maio de 2014

A Semana dos Museus é um evento que ocorre no país inteiro, e terá sua segunda edição realizada no período de 12 à 18 de maio de 2014 no Museu Capitão Henrique José Barbosa, Canguçu-RS. O evento é o responsável por 130% do aumento do público visitante dos museus brasileiros, e é organizado pelos museus através do IBRAM, Instituto Brasileiro de Museus.

Em 2014 o evento terá um caráter mais educacional, buscando uma proximidade maior com o público através de programações culturais interativas adequadas a cada faixa etária. Se adequando a temática “Museus: as coleções criam conexões”, o Museu Municipal procurará não só mostrar as conexões das suas próprias coleções mas buscar entender coleções de outras instituições através de comunicações abertas em edital.

Manter viva a cultura patrimonial no município será um dos propósitos, buscando movimentar a Casa da Cultura Marlene Barbosa Coelho no decorrer das atividades. A coleção em destaque será a coleção de materiais fotográficos de Egídio Camargo, que será exposta no salão central da Casa da Cultura, e no decorrer da programação mostrará as diversas conexões da mesma coleção em diversas diretrizes culturais do município.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Sugestão de Leitura (disponível na Biblioteca)

A Festa no Castelo - Moacyr Scliar

O mundo mágico e requintado da aristocracia italiana, um jovem idealista, um velho sapateiro que quer mudar o mundo, o golpe de 1964, medos, festas, falências, conflitos de família, sonhos de um mundo sem exploradores nem explorados. Enfim, todo o talento e a magia da ficção de Moacyr Scliar estão neste A festa no castelo.

Catálogo: Coleção L&PM Pocket

Gênero: Literatura moderna brasileira Romance

ISBN: 85.254.1040-3

Páginas: 138

Moacyr Scliar: Nasceu em Porto Alegre em 1937 e faleceu em 27 de fevereiro de 2011. É autor de mais de 80 livros, uma obra que abrange vários gêneros: ficção, ensaio, crônica e literatura juvenil. Muitos destes foram publicados nos Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha, Portugal, Suécia, Argentina, Colômbia, Israel e outros países, com grande repercussão crítica. Entre outros, recebeu os prêmios: Prêmio Joaquim Manoel de Mace­do (1974), Prêmio Erico Verissimo (1976), Prêmio Ci­da­de de Porto Alegre (1976), Prêmio Guimarães Rosa (1977), Prêmio Brasília (1977), Prêmio Jabuti (1988, 1993 e 2000), Prêmio Associa­ção Paulista de Críticos de Arte (1989), Prêmio Casa de las Americas (1989), Prêmio Pen Clube do Brasil (1990), Prêmio José Lins do Rego (Academia Brasileira de Letras, 1998). Formou-se em medicina em 1962, especializando-se em saúde pública. Em 1993 e 1997 foi professor visitante na Brown University (Departament for Portuguese and Brazilian Studies), nos Estados Unidos.
Moacyr Scliar foi colunista dos jornais Zero Hora e Folha de S.Paulo e colaborou em vários órgãos da imprensa no país e no exterior. Tem textos adaptados para cinema, teatro, tevê e rádio, inclusive no ex­te­rior. Em 2003, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. 

Obras do Autor
Contos:
-O carnaval dos animais. Porto Alegre: Movimento, 1968. (Disponível na Biblioteca)
-A balada do falso Messias. São Paulo: Ática, 1976.
-Histórias da terra trêmula. São Paulo: Escrita, 1976.
-O anão no televisor. Porto Alegre: Globo, 1979.
-Os melhores contos de Moacyr Scliar. São Paulo: Global, 1984.
-Dez contos escolhidos. Brasília: Horizonte, 1984. (Disponível na Biblioteca)
-O olho enigmático. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.
-A orelha de Van Gogh. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
-Contos reunidos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
-O amante da Madonna. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1997.
-Os contistas. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997.
Romances:
-A guerra no Bom Fim. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1972; Porto Alegre: L&PM, 1981.(Disponível na Biblioteca)
-O exército de um homem só. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1973; Porto Alegre: L&PM, 1980. (Disponível na Biblioteca)
-Os deuses de Raquel. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1975; Porto Alegre: L&PM, 1983. (Disponível na Biblioteca)
-O ciclo das águas. Porto Alegre: Globo, 1975; Porto Alegre: L&PM, 1997. (Disponível na Biblioteca)
-Mês de cães danados. Porto Alegre: L&PM, 1977. (Disponível na Biblioteca)
-Doutor Miragem. Porto Alegre: L&PM, 1979. (Disponível na Biblioteca)
-Os voluntários. Porto Alegre: L&PM, 1979. (Disponível na Biblioteca)
-O centauro no jardim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980; Porto Alegre: L&PM, 1983. (Disponível na Biblioteca)
-Max e os felinos. Porto Alegre: L&PM, 1981.
-A festa no castelo. Porto Alegre: L&PM, 1982. (Disponível na Biblioteca)
-A estranha nação de Rafael Mendes. Porto Alegre: L&PM, 1983.
-Cenas da vida minúscula. Porto Alegre: L&PM, 1991.
-Sonhos tropicais. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
-A majestade do Xingu. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
-A mulher que escreveu a Bíblia. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
Ficção Juvenil:
-Cavalos e obeliscos. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1981. (Disponível na Biblioteca)
-Memórias de um aprendiz de escritor. São Paulo: Com­pa­nhia das Letras, 1984.
-No caminho dos sonhos. São Paulo: FTD, 1988.
-O tio que flutuava. São Paulo: Ática, 1988.
-Os cavalos da República. São Paulo: FTD, 1989.
-Pra você eu conto. São Paulo: Atual, 1994.
-Uma história só pra mim. São Paulo: Atual, 1994.
-Um sonho no caroço do abacate. São Paulo: Global, 1995.
-O Rio Grande Farroupilha. São Paulo: Ática, 1995.
Crônicas:
-A massagista japonesa. Porto Alegre: L&PM, 1984. (Disponível na Biblioteca)
-Um país chamado infância. Porto Alegre: Sulina, 1989.
-Dicionário do viajante insólito. Porto Alegre: L&PM, 1995.
-Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar. Porto Alegre: L&PM, 1995.
Ensaio:
-A condição judaica. Porto Alegre: L&PM, 1987. (Disponível na Biblioteca)
-Do mágico ao social: a trajetória da saúde pública. Porto Alegre: L&PM, 1987.
-Cenas médicas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1988.
-Se eu fosse Rothschild. Porto Alegre: L&PM, 1993.
-Judaísmo: dispersão e unidade. São Paulo: Ática, 1994.
-Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1996.  
-A paixão transformada: história da medicina na lite­ratura. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Conto: A Cartomante - Machado de Assis (disponível na Biblioteca)

Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
— Errou! Interrompeu Camilo, rindo.
— Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...
Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois...
— Qual saber! tive muita cautela, ao entrar na casa.
— Onde é a casa?
— Aqui perto, na rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.
Camilo riu outra vez:
— Tu crês deveras nessas coisas? perguntou-lhe.
Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muito cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranqüila e satisfeita.
Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se, Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.
Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.
Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.
— É o senhor? exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor.
Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vente e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.
Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.
Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas que o cercam.
Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e estima de Vilela continuavam a ser as mesmas.
Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.
Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento: — a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo.
Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio. Rita concordou que era possível.
— Bem, disse ela; eu levo os sobrescritos para comparar a letra com a das cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...
Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Camilo devia tornar à casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo divergia; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.
No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Camilo este bilhete de Vilela: "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de meio-dia. Camilo saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou ilusão, afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou todas essas cousas com a notícia da véspera.
— Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com os olhos no papel.
Imaginariamente, viu a ponta da orelha de um drama, Rita subjugada e lacrimosa, Vilela indignado, pegando na pena e escrevendo o bilhete, certo de que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo. Camilo estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a idéia de recuar, e foi andando. De caminho, lembrou-se de ir a casa; podia achar algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a idéia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A mesma suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil, viria confirmar o resto.
Camilo ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas; ou então, — o que era ainda peior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Vilela. "Vem já, já à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Ditas, assim, pela voz do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê? Era perto de uma hora da tarde. A comoção crescia de minuto a minuto. Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a crê-lo e vê-lo. Positivamente, tinha medo. Entrou a cogitar em ir armado, considerando que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois rejeitava a idéa, vexado de si mesmo, e seguia, picando o passo, na direção do largo da Carioca, para entrar num tílburi. Chegou, entrou e mandou seguir a trote largo.
— Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso estar assim...
Mas o mesmo trote do cavalo veio agravar-lhe a comoção. O tempo voava, e ele não tardaria a entestar com o perigo. Quase no fim da rua da Guarda Velha, o tílburi teve de parar; a rua estava atravancada com uma carroça, que caíra. Camilo, em si mesmo, estimou o obstáculo, e esperou. No fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda, ao pé do tílburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez, e nunca ele desejou tanto crer na lição das cartas. Olhou, viu as janelas fechadas, quando todas as outras estavam abertas e pejadas de curiosos do incidente da rua. Dir-se-ia a morada do indiferente Destino.
Camilo reclinou-se no tílburi, para não ver nada. A agitação dele era grande, extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O cocheiro propôs-lhe voltar a primeira travessa, e ir por outro caminho; ele respondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para fitar a casa... Depois fez um gesto incrédulo: era a idéia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu outra vez as asas, mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua, gritavam os homens, safando a carroça:
— Anda! agora! empurra! vá! vá!
Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava em outras cousas; mas a voz do marido sussurrava-lhe às orelhas as palavras da carta: "Vem já, já..." E ele via as contorções do drama e tremia. A casa olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar... Camilo achou-se diante de um longo véu opaco... pensou rapidamente no inexplicável de tantas cousas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos extraordinários; e a mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro: "Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a filosofia..." Que perdia ele, se...?
Deu por si na calçada, ao pé da porta; disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve idéia de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para os telhados do fundo. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio.
A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:
— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...
Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...
— A mim e a ela, explicou vivamente ele.
A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.
— As cartas dizem-me...
Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável mais cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.
— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante.
Esta levantou-se, rindo.
— Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...
E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como se fosse mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava o preço.
— Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar?
— Pergunte ao seu coração, respondeu ela.
Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.
— Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá tranqüilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...
A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a cartomante alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.
Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo.
— Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.
E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer cousa; parece que formou também o plano de aproveitar o incidente para tornar à antiga assiduidade... De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá, vá, ragazzo innamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável.
Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.
— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?
Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.

*Este conto foi publicado originalmente na
Gazeta de Notícias - Rio de Janeiro, em 1884. Posteriormente foi incluído no livro "Várias Histórias", "Contos Escolhidos" e em "Contos: Uma Antologia", Companhia das Letras - São Paulo, 1998, de onde foi extraído. Com esta publicação homenageamos Machado de Assis.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Artigo de Alan Otto Redü

Carlos Reverbel
Um Marco Nas Letras do Sul

Há alguns dias atrás terminei de ler o Livro “Carlos Reverbel Textos Escolhidos” que se configura basicamente em alguns dos melhores textos reunidos, sob criteriosa apreciação da critica do Jornalista e escritor Carlos Reverbel. Organizado brilhantemente pelos Jornalistas Claudia Laitano e Elmar Bones, livro este lançado no ano de 2006. “Reverbel revela-se um incansável “garimpador” de histórias e personagens da cultura gaúcha além de um narrador elegante e preocupado com o prazer dos leitores” Nos aponta Claudia Laitano. Carlos Reverbel nasceu no município de Quarai/RS a 21 de Julho de 1912, foi conterrâneo e amigo de outro grande escritor e psicanalista Gaúcho, Cyro Martins. Depois de passar a infância em São Gabriel/RS terra dos marechais, foi para capital Porto Alegre, para mais tarde ir para Florianópolis/ SC, onde iniciou no ano de 1934 a sua carreira de Jornalista, morou também no Rio de Janeiro/RJ, Além de ser colaborador dos jornais Gaúchos Zero Hora e Correio do Povo, hoje Grandes veículos de circulação no sul do País. Carlos Reverbel escreveu vários livros, entre eles quiçá o mais importante de sua lavra literária, pela importância que o mesmo traria a todos os admiradores da obra de João Simões Lopes Neto, o imortal escritor Pelotense. Reverbel é considerado seu principal biógrafo, pois em “Um Capitão da Guarda Nacional” ele além de apresentar fatos relevantes da vida e da obra de Simões Lopes Neto, ele nos faz compreender alguns pontos específicos que nos facilitam o entendimento dos raciocínios “Simonianos”, quando este se aproxima da visão de mundo, anseios e sonhos do autor de “Lendas Do Sul” e “Contos Gauchescos”. Não se pode explanar sobre a Simões Lopes Neto, sem mencionar a fundamental contribuição de Carlos Reverbel para a obra deste... Reverbel, Tinha uma sensibilidade aguda e um talento genial, para escrever suas matérias. Nunca deixou que alguma vaidade ou benefício Próprio corrompesse seus valores morais, foi ético em toda a sua vida no desempenho de suas tarefas jornalísticas. Passou por inúmeras dificuldades, até porque ser jornalista no século passado não era uma atividade que tornasse algum homem em rico ou famoso, bem pelo contrário. Carlos Reverbel era Intenso... Ele mesmo nos diz:
“Talvez Já suspeitando da atmosfera Romântica nosso amigo comum, pediu licença e saiu, deixando a sós os dois quase desconhecidos, Eu (Reverbel) tomava Cerveja, Ela ( Olga) Tomava Licor, ela adorava teatro, eu preferia literatura. Eu era muito Tímido. Ela Falava o tempo Todo. No Final da Manhã já estávamos apaixonados...” Este era Carlos Reverbel sem se poupar, vivia intensamente cada segundo de seus dias. Sendo o mesmo com todas as pessoas que o procuravam. Nas últimas linhas do já mencionado livro “Textos Escolhidos” ele nos Diz: “Da Minha Parte se pudesse pleitear algum tipo de premiação por tempo de serviço, não teria duvida em pedir muitos anos de vida lúcida e útil, ativa nesse mundo imperfeito em que vivemos” O Rio Grande do Sul como o Brasil, deve muito ainda a Memória de Carlos Reverbel, não por ele ter tido contato com grandes intelectuais de seu tempo, mas pela própria luz que ele acendeu ao escrever cada linha relatando olhares diferentes em cada matéria que escrevia. Pela vida devotada ao Jornalismo e a história do Rio Grande do Sul. Conheçamos mais este importante Intelectual das letras do Sul.

Alan Otto Redü é estudante de Economia da Universidade Federal de Pelotas.
E-mail Profissional: alan.redu@cangucu.gov.rs.br

 Obra disponível na Biblioteca

quinta-feira, 3 de abril de 2014

"À Bandeira da República" a poesia premiada de Vanderlei Pinto de Oliveira

À Bandeira da República

No galope do minuano
Tremula a velha bandeira
Testemunha e companheira
Da epopéia farroupilha
Quando andou nestas coxilhas
Nas mãos do negro farrapo
E mesmo virada em trapo
Não deixou de ser caudilha;

Quantas lutas presenciastes
Por estes rincões do pampa
Mantendo firme a estampa
Do gaúcho em sua essência
E o sonho de independência
Que, plantado sobre este chão
Criou forma de coração
E transformou-se em Querência;

Apesar de tantos invernos
Mantivestes viva a cor
Do sagrado pendão tricolor
Que em muitos pagos andou
E tantas glórias guardou
Pois ainda carrega a marca
Do sangue de algum monarca
Que por cima de ti tombou;

Imagino, velha bandeira
Que se pudesses falar
Haverias de contar
Das noites de invernias
Ou dos atos de valentia
Que ainda guardas na memória
Pois fizeste parte da história
Que o gaúcho escreveu um dia;

E hoje, quando te vejo
Sempre me vem na lembrança
A silhueta de uma lança
Que um farrapo traz na mão
Pra cumprir a nobre missão
De defender esta terra
Nos tempos da Grande Guerra
Que demarcou este chão;

Mas estes tempos passaram
E pelos rincões do pampa
Não se vê mais a estampa
Do gaúcho peleador
Que sem receio ou temor
Lutou por mais igualdade
E mostrou que a liberdade
Se conquista com amor;

Onde andará o nosso orgulho ?
Me responda, velha bandeira !
Será que se perdeu na poeira
Nos corredores do pago?
Como a água do mate-amargo
Que aos poucos se vai embora
Levando um pouco da história
Que bebemos trago a trago;

Bandeira velha, farrapa
No passado foi legendária
Hoje triste e solitária
À espera de um companheiro
Que no calor do entrevero
Pudesse tentear a sorte
Ou mesmo depois da morte
Lhe servisse de baixeiro;

Trago sempre de à cabresto
O desejo ainda puro
Que nossos filhos, no futuro
Preservem o teu passado
E que sempre bem pilchado
Sem ostentar muito luxo
Ainda reste um gaúcho
Em guarda no teu costado;

Bandeira; sei que no mundo
Ninguém fica pra semente
E um dia certamente
No pago eu nunca mais ande
Mas eu quero que alguém mande
Me colocar no puro chão
E em cima do meu caixão
Uma bandeira do Rio Grande.

Sobre Vanderlei Pinto Oliveira
Nascido em Canguçu, no Sul do Estado do Rio Grande do Sul, neto de uruguaios de origem ibérica pelo lado paterno e descendente de indígenas pelo lado materno, sou Vanderlei Pinto de Oliveira, segundo filho de Valnei Almeida de Oliveira e Zaira Pinto de Oliveira, campesinos por origem e gaúchos de alma e coração.Irmão do matemático e tradicionalista, professor Claudiomar Pinto de Oliveira.
Cresci no campo ouvindo o berro do gado,o relinchar dos potros e o cantar do quero-queros.Gaúcho de nascimento e coração, desde cedo interessei-me pelos costumes e tradições da minha terra.Formei-me o Primário, Secundário e hoje estou cursando Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal de Pelotas-UFPEL.
Fonte: http://www.poetasdelmundo.com/detalle-poetas.php?id=7530

terça-feira, 1 de abril de 2014

DICA DE FILME BASEADO EM LIVRO

OS CANHÕES DE NAVARONE ___LIVRO___ (Disponível na Biblioteca)


Editora: Nova Fronteira
ISBN: 0
Ano de Edição: 1967
Paginas: 338

Os Canhões de Navarone” é um livro de aventuras sobre a segunda Guerra Mundial. A história se passa na ilha de Kheros, onde mil e duzentos soldados Britânicos estão isolados à espera da morte, eles lutam no Mar Egeu contra as tropas do 3º Reich. Numa tentativa de fazer com que a Turquia se alie ao Alto Comando do Eixo, em Berlim, o Comando prepara uma demonstração de força, próxima à costa do país. Para isso, o melhor armamento deve ser utilizado, assim, os britânicos poderiam ser facilmente dominados. A única maneira de fugir é por uma rota de fuga que se encontra bloqueada por dois canhões controlados por radar e instalados em Navarone, uma pequena e estratégica ilha na divisa de Kheros.
Aparentemente, o lugar é uma fortaleza de ferro e impenetrável. Keith Mallory, capitão experiente, treinado em montanhismo, é incumbido de liderar um pequeno grupo para escalar o precipício de Navarone e fazer explodir os canhões. O capitão terá que colocar seu grupo em risco e calcular meticulosamente suas ações na guerra. Eles têm apenas seis dias para enfrentar o fogo inimigo, patrulhas alemãs, além de lidar com questões de liderança e a suspeita de ter um traidor no grupo.



OS CANHÕES DE NAVARONE ___FILME___


Título original: The Guns of Navarone 
Duração: 156 minutos (2 horas e 36 minutos)
Gênero: Guerra / Drama
Direção: J. Lee Thompson
Ano: 1961 
País de origem: EUA

Sinopse: Gregory Peck, Anthony Quinn e David Niven são sabotadores aliados designados para uma missão impossível: infiltrar-se numa impenetrável ilha dominada pelos nazistas e destruir os dois imensos canhões que impedem o resgate de 2 mil soldados britânicos aprisionados. O roteirista proscrito pelo Macarthismo, Carl Foreman (Matar ou Morrer, A Ponte do Rio Kwai) estava determinado a restabelecer seu nome e credibilidade após passar a maior parte dos anos 50 trabalhando no anonimato. Para tanto decidiu levar às telas o romance de Alistair MacLean, Os Canhões de Navarone. Apoiado num elenco de astros e produção grandiosa, o filme fez enorme sucesso, recebendo sete indicações para o Oscar de 1961 (inclusive Melhor Filme) e evencendo a de Melhores Efeitos Especiais. Apesar de Foreman ter marcado seu gol, foi MacLean o verdadeiro beneficiado; seu romance tornou-se fonte para muitas aventuras épicas no cinema, incluindo Estação Polar e Desafio das Águias. Contudo, é Canhões de Navarone que permanece não apenas como uma das melhores adaptações de MacLean, mas um dos maiores espetáculos de ação e aventura já produzidos.



Felicidade clandestina - Clarice Lispector (disponível na Biblioteca)

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".

Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.

Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.

Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.

Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.

E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!

E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.

Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.

Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.